Nas últimas semanas tenho estado um pouco ausente. A correria do dia a dia vem comprometendo a minha rotina de posts. Queria retomar a nossa conversa neste espaço com um tema positivo, mas infelizmente a notícia é muito negativa. De acordo com um relatório divulgado ontem pela ONU (UN Environment), a poluição orgânica e patogênica de rios cresceu mais de 50% na América Latina, África e Ásia entre 1990 e 2010. Isso faz com que o risco de contaminação por doenças causadas por organismos presentes na água aumente significativamente, seja pelo contato direto ou indireto, por meio dos alimentos, por exemplo. E como não poderia ser diferente, as pessoas com menos recursos financeiros são as mais afetadas neste contexto, pois estão mais expostas ao risco.
Por intuição, já poderíamos imaginar que a poluição dos rios é maior hoje do que há 20 anos – sabemos que grande parte da população não tem acesso aos sistemas básicos de saneamento, que não são utilizadas as melhores tecnologias para limpeza das águas e que o Planeta segue crescendo. Segundo a ONU, esse cenário é resultado da expansão populacional, do aumento da atividade econômica, da intensificação da agricultura e da ampliação da quantidade de esgoto lançado no ambiente. Na América Latina, a poluição patogênica grave gerada pela descarga de resíduos não tratados afeta um quarto dos rios da região e 25 milhões de pessoas estão expostas ao risco de contaminação. Atualmente, cerca de 3,4 milhões morrem no mundo por ano de doenças relacionadas a esses agentes patogênicos, tais como a cólera, a febre tifóide, a hepatite infecciosa, a poliomielite, as diarreias, entre outras.
E é possível melhorar essa situação. Hoje, já existem tecnologias que podem reduzir a poluição, incluindo sistemas mais avançados de tratamento, reciclagem do insumo e monitoramento do processo. No Vale do Silício (EUA), por exemplo, foi instalado o Centro Avançado de Purificação de Água, que recicla o esgoto e a urina. É um processo que envolve uma centrífuga para separar as impurezas, microfiltração, osmose e raios ultravioletas, tornando essa água mais limpa que a potável tradicional.
No Brasil, estamos em uma etapa anterior a esta de melhorar as tecnologias de tratamento e não conseguimos nem ao menos disponibilizar rede de esgoto para a população. O cenário é assustador, segundo o Instituto Trata Brasil: mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso ao serviço de coleta, uma vergonha para um país como o nosso, com incontestável significância política e econômica. Em volume, as capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de metros cúbicos de resíduos na natureza em 2013. O custo de décadas de inércia é elevado: seriam necessários R$ 303 bilhões em 20 anos para a universalização da água e do esgoto!
(Foto: Pixabay)